O Valor do Grave

SÓ É GRAVE AQUILO QUE É NECESSÁRIO, SÓ TEM VALOR AQUILO QUE PESA.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Garoto e Colega.

Com os pés apoiados em uma pedra quadrada no chão e com a barriga junto a pia, ela lava a primeira leva de roupas. A barriga já está completamente molhada, resultado da água que respinga do tanque. Os meninos estão brincando. As férias são sempre assim. Os pais vão trabalhar e deixam os pestinhas ao cuidado da senhora.

O verão se expressa dando indícios de sua força; De manhã a chuva é forte e fria. Depois do almoço, começa a aparecer às borboletas brancas e amarelas que resulta no alvoroço e divertimento dos dois vira-latas da casa. As mangas ainda estão verdosas (infelizmente). O lamaçal causado pela chuva da manhã ilhou a pia onde ela vai lavar as roupas. É preciso se equilibrar na pedra pra não melar o pé de barro e sujar a casa toda.

Os cachorros não param. Pulam tentando pegar as borboletas. Os rabos compridos de vira-latas inquietos, a língua rósea pra fora de pura felicidade busca abocanhar os pequenos insetos voadores. É uma algazarra. Latidos em vários tons percorrem todo o quintal em busca da esquadrilha branca e amarela. São dois. Garoto e Colega. Um, cor de mel e o outro, cor de carvão. São os reis e sócios daquele paraíso.

Os três meninos não param. Há cada cinco minutos, uma brincadeira diferente: Caçar minhocas, matar calangos, luta-livre, piratas, robôs, personagens de seriados japoneses, brincam de bola, travinha, pênaltis, escanteio e quadrado. Jogam bila, bafo com as figurinhas do Campeonato Brasileiro do ano e de vez em quando o mais velho consegue (ilicitamente) bombas rasga-latas. Ouvem música e tocam instrumentos musicais imaginários. Precisam comer muito, pois, segundo a vó, gastam muita energia. De tarde são duas jarras do liquidificador de bananada com muito açúcar. Depois do almoço, enquanto dormem os avós, uma espiadinha das revistas “secretas” de mulher pelada do avô.

Semana passada, houve um grande alvoroço quando Colega, o vira-lata preto, mordeu a mão do menino mais novo. A mãe ficou alarmada e quis levar o pestinha ao hospital para tomar uma vacina. – tem problema não, minha filha. – apazigua a avó – lavei com sabão de coco a ferida e o além do mais, o Colega é vacinado. (...) é minha filha, o Colega é meio temperamental. Cismou com o menino, que é uma coisa...

A tarde cai e as mães vêm pegar seus respectivos filhos, já esgotados de tantas aventuras. A avó já preparou o cuscuz do seu companheiro. As borboletas dos cachorros já se foram e agora eles já estão deitados na cozinha, quase dormindo perto do fogão. O avô come sua janta com pressa para assistir tevê. A avó lava o restante da louça da tarde e sorri um sorriso cúmplice se lembrando de mais um dia de alegria naquela casa tão triste.

Uma pulga esfomeada faz uma cosquinha gostosa atrás da orelha de Garoto que se coça sem pressa. Uma verdadeira terapia. O outro dorme sabendo que amanhã tem mais borboletas.