O Valor do Grave

SÓ É GRAVE AQUILO QUE É NECESSÁRIO, SÓ TEM VALOR AQUILO QUE PESA.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Amor de Menino

Depois do almoço era a melhor hora para o menino. Saía correndo rumo a parede do açude. – já vai brincar no açude? Menino... vai se aquietar... – dizia a mãe, as tias e todas as mulheres da casa. Os homens até que achavam normal aquela correria desesperada para diversão de menino 12 anos. - Deixa o menino descobrir a vida, mulher!

A ciência comprova que o amor está cem por cento, ligado ao prazer. O prazer se torna melhor quando se faz amando.

O menino (depois do almoço) chega à parede do açude já ofegante. Primeiro espia. Espia atrás do grande eucalipto que jazia por perto. Embaixo de seus pés somente o mato verde e fresco. O eucalipto fazia uma sombra deliciosa e ele sabia que lá, era o lugar favorito dela!

No começo se sentia culpado por fazer isso. Na escola, falaram que é pecado. Quem faz isso, vai pros quintos dos infernos (tudo no plural). Agora, já se sentia tranqüilo e sabia que naquele pecado capital, os dois (ela e o menino) eram cúmplices.

Chegou atrás da grande árvore, já bastante ofegante. Descansa e espia. Não tinha como dar errado. Lá estava ela, paradinha, calminha, aproveitando a frescura da sombra. – É simples... descansa que ela não vai sair daí. Vai devagar. Ela vai deixar... ela sempre deixa, ora mais... – um sorriso maquiavélico surge na face do menino. - Eu sei que ela gosta... gosta até mais que eu... quase nunca faz barulho... ela gosta.

Ela estava morando na fazenda, fazia pouco tempo. E pra falar a verdade, ele nunca tinha reparado nela. Ela era diferente, mas o primeiro amor é de certa forma, sempre diferente.

Ele chega rápido e por trás. Passa a mão na sua loirice avermelhada. – Calma meu amor... sou eu, sou eu. – falava o menino de forma tranqüila. – Não te preocupa. Não vou fazer nada de mais. – Cara-de-pau! Ele faz carinho, pega nela, nos seus pequenos seios. – Meu amor! Eu gosto muito de você... Sabia? – ela continua estática. Olha pra trás com um olhar cínico e provocador. Dá um pequeno gritinho e se sujeita ao sacrifício em favor do seu amante. Ele ajeita seus pezinhos com muita delicadeza. Acaricia a sua forma curvada e faz o que tivera pensando durante toda a manhã: Encontrar embaixo do eucalipto com a sua amada. – Que delícia... – pensa o sacana.

Independente de conceitos. O amor é puro e louco. Sempre na medida certa. Puro e louco. Louco por que às vezes não segue uma linha. Puro como o de um menino e de uma cabritinha.

Seu Zezo

Brincando, brincando, me vem a memória, a incrível figura de seu Zezo. Histórico na minha infância e um dos personagens favoritos da minha juvenil imaginação


Motorista de nossos vizinhos, seu Zezo com certeza não tinha uma vida tão espetacular, porém significativamente abençoado pelo dom da prosa e da fantasia, minha cabeça criou um personagem peculiar. Um verdadeiro aventureiro.

Seu Zezo ou Raimundo, nasceu há mais de 60 anos na cidade de Cedro, interior do Ceará. Trabalha como motorista há mais de 20 anos. E sempre para o Doutor Antônio Carlos, obstetra e com mais ou menos a mesma idade de seu Zezo. – Conheci o Doutor Antônio na noite. Eu era motorista de táxi. Você sabe que também já fui motorista de táxi, né? Aquele tempo era uma maravilha...- (para seu Zezo, tudo no passado era uma grande maravilha. Achava que ele tinha razão).

- Já morei no Sul. Lá em São Paulo. Lá, além de ter trabalhado no circo, trabalhei como carcereiro. Os bandidos tinham o costume de me chamar de Baiano Branco.

- Eu lavo a camionete do seu Antônio todo santo dia. Tá vendo essa cera? Ela é própria pra camionetes. Foi comprada lá nos Estados Unidos. Foi seu Antônio que mandou trazer... Gente boa, seu Antônio... O tanto de dinheiro que ele tem, nunca buliu na cuca dele.

- Eu, na sua idade, tinha um garrote. Grande! Gordo! Tinha uma corcova tão gorda que pendia pro lado. Cê sabia que a corcova do boi é igual a dos camelos? Serve pra guardar água pra época do seco. É todinha cheinha d’água.

- A gente ouve estórias de presos fazendo confusão na cadeia, hoje em dia. Naquele tempo não. Naquele tempo os presos respeitavam os carcereiros, polícia e até padre! Cê sabia que uma vez, lá em São Paulo, tive o prazer de conhecer um padre que foi preso? Pois é... Homem de muita cultura.

- Em São Paulo, eu já trabalhei em circo. Sabia? Hahaha.

- Eu também já criei um tatu. Criava dentro de uma lata grande, quase da minha altura, toda cheia de areia. Era desse tamanho oh... oh...

- Eles me chamavam de Baiano. Eu não sei! Imagino que pra eles, todo mundo que vem do norte é baiano. Já conheci muito baiano, mas nenhum se parece com o meu povo do Cedro. Não que baiano não goste de trabalhar, mas porque o meu povo do Cedro é muito trabalhador.

- A vida no Cedro era uma maravilha. Não podia reclamar. Só peguei desgosto quando meu pai desfez meu garote.

- Todos os dias quando voltava da cadeia, ia pra casa de Naná. Era comida na mesa e lençol lavado. Até a minha pinga a crioula deixa separada. Era uma maravilha.

- Toda tarde eu colocava um pires de leite e o danado do tatu saia do buraco e ia beber o leite. O povo diz que tatu come defunto, mas é mentira. Tatu é um mamífero! Bebe leite como eu e você. Não come defunto não, Lucim.

- Oh... crioula danada, essa Naná...

- Meu garote tava grande, menino. Gordo que só vendo. Forte! Eu montava nele e era tudo uma maravilha. A corcova ia prum lado e pro outro. Uma vez o Pai chamou e disse: Raimundo! Raimundo! Seu garote tá muito gordo e dando muito prejuízo. Ou a gente vende pro seu Inácio, ou a gente mata e come. Fiquei danado, mais por medo do que por outra coisa. Já pensou? Perder meu garote que eu tanto cuidava? Fiquei tão danado que quebrei duas cabaças de água. Levei uma surra e não se falou mais nada sobre o garrote, até que duas semanas depois, o bichinho virou nosso jantar por mais de um mês.

- Conheci Naná no baile, lucim... namorava com outra.

- Ah... esse padre... não me lembro o nome. Cê sabia que padre é povo de muita cultura? Um homem pra entender nas coisas do Céu, tem que entender de quase tudo que se passa na terra. A única coisa que padre não entende, é de mulher. Hahaha!

- (...) já viu que menina mais linda, essa? Mesmo com a minha idade, num tenho medo de mulher, não!

-O homem só é cem por cento corajoso quando perde o medo da miséria e da solidão. Já perdi faz tempo...

- Eu tinha um cachorrinho, também. Mas isso já foi lá no sul...

- Já te contei como eu virei taxista aqui em fortaleza?

- Me apaixonei por Naná à primeira vista! Isso existe, menino!

- Você quer saber o que aconteceu com o meu tatu? Ah... essa é uma boa estória...

- Naná era de Recife. Você conhece Recife? Eu conheci quando fomos conhecer os pais de Naná. Tive que pedir em casamento ao pai. Homem bruto! Pela crioula eu fazia tudo!

- Quando você ficar mais velho você vai entender.

- Ah... lógico... Conheci muito bandido e ladrão em São Paulo. Lá, já trabalhei de carcereiro. Fiquei até muito amigo de um! Henrique... eu acho que o nome dele era Henrique. Quando saiu da cadeia, foi morto... não sei porque.

- O problema de ficar velho é que você começa a ver todos seus amigos morrendo e você fica pensando: tá chegando a minha vez, tá chegando a minha vez, tá chegando a minha vez... No findar, a aflição dá lugar a uma espera normal. Até hoje, antes de dormir eu penso: tá chegando a minha vez...

- A vida é boa, menino. A vida é boa e é fácil. Tá tudo aí, nas mãos de cada um.

- Uma vez, vi um homem pular de um prédio. O incrível foi que ele não se esborrachou no chão. Ele caiu flutuando igual a uma pena. Falaram que foi a mão de Deus que segurou o homem. Hahaha .

- Oh crioula danada, essa Naná... É o tipo de mulher que cuida do homem que tem...

- Naquele tempo, tudo era uma maravilha, Lucim...

- O problema é que a gente só aprende a viver quando tá velho demais. Hahahahaha.


segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Huxley


"Vivemos, agimos e reagimos uns com os outros; mas sempre, e sob quaisquer circunstâncias, existimos a sós. Os mártires penetram na arena de mão dadas; mas são crucificaods sozinhos. Abraçados, os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados em uma única autotransparência; debalde. Por sua própria natureza, cada espírito, em sua prisão corpórea, está condenado a sofrer e gozar em solidão. Sensações, sentimentos, concepções, fantasias - tudo isso são coisas privadas e, a não ser através de símbolos, e indiretamente, não podem ser transmitidas. Podemos acumular informações sobre experiências, mas nunca as próprias experiências. Da família à nação, cada grupo humano é uma sociedade de universos insulares." (...)

[Huxley]