O Valor do Grave

SÓ É GRAVE AQUILO QUE É NECESSÁRIO, SÓ TEM VALOR AQUILO QUE PESA.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Barriguda.

Pela segunda vez, a gata está grávida. Na primeira gestação, quase morre e quase perde a ninhada. Um carro vilão atropelou a coitada. Não era a hora dela, ou talvez ainda restasse uma vida das sete que possui. Resultado da ópera: não morreu e seus filhotes nasceram sãos. Agora, novamente ela vai colocar outros no mundo e felizmente, nenhum malfeitor tentou interferir.

Gata vira-latas, sem endereço certo, passa temporadas no bar da esquina. Inerte, ela se deita aos pés dos velhos bêbados e descansa sua imensa barriga com suas tetinhas cheias de leite. – Desta vez, ela vai parir sete ou seis. – Comenta um deles, enquanto faz cafuné na sua cabecinha dourada. O futuro dos filhotes é incerto e tal fato preocupa o dono do bar que pegara afinidade com o felino. Preocupa-se, pois não quer mais gatos no estabelecimento. – Gata de rua é assim mesmo. Dá e pari... Dá e pari...

O acidente que quase rouba a sua vida e de seus filhotes ainda dentro do ventre, aconteceu na frente do bar. O carro passou no mesmo momento que a gata atravessava a rua. Já estava bem barriguda e lenta, não conseguindo esquivar do gigante motorizado. Todos os fiéis bêbados estavam presentes e viram a cena. Uns tamparam os olhos (ou somente um olho), outros levaram as mãos à cabeça. Só se ouviu o estridente miado de susto do animal. – Esmagou-lhe as entranhas! – exclamou o mais afobado. Para a surpresa de todos, a gata corre para dentro do bar e se esconde na mesa de sinuca. – Ainda vive! – mais exclamações.

Deram horas de vida para a gata e quando passaram essas horas, deram dias. Ela não morreu, pariu e engravidou novamente (preocupação desnecessária para o dono do estabelecimento). Na vez passada, conseguiu um lar para dois dos gatinhos. Os outros três, depois de desmamados, foram jogados à sorte na praça próxima. – Agora a vida toma conta. Cada um por si e que São Francisco cuide deles.

É fim de tarde e começo do expediente. O dono do bar serve as primeiras cervejas e cachaças para os primeiros clientes. Enquanto corta as laranjas para tira-gosto, repara na barriga da gata deitada aos pés de um cliente. Ela cochila com o cafuné e com a barriga barriguda para cima, descansa do ócio. Não se lembra do acidente. Sem traumas psicológicos, pois gatos de rua não sofrem por traumas.