O Valor do Grave

SÓ É GRAVE AQUILO QUE É NECESSÁRIO, SÓ TEM VALOR AQUILO QUE PESA.

domingo, 11 de março de 2007

O Padre na Casinha

O padre olha pro chão de cimento sujo de barro vermelho (cor de jerimum). Olha pro teto com telhas gastas (cor de jerimum). Ele sua. Sua como um porco. “Like a pig”. Na Casinha, no banheiro, na privada, se sente tão mortal como os imortais nativos daquela pequena cidade do nordeste brasileiro.


Padre Pumpkin, britânico de sangue, romano de coração. Veio parar nessa terra-de-seu-ninguém mandado pela arquidiocese da capital há mais de um ano, como sansão de suas más condutas praticadas na cidade grande. Como chegou no Brasil, não se sabe.

- Aqui é o inferno! Pessoas se matam a facadas por conta da aguardente! A aguardente é a bebida do Satanás! O vinho não. O vinho é o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém. – pensa o Padre na casinha enquanto seu suor empapa sua velha batina – Essa cidade é quente como o inferno. As pessoas são negras pelo calor e o azedume do local, deve ser parecido com o enxofre “from hell”.

Repara longamente no quadrado de ângulos mal traçados que o circula. No centro, a privada branca amarelada. As paredes, com sua base já negra pelos fungos e musgo. A falta de ventilação do cubículo faz reinar um cheiro intragável. Repara no teto. Um coro de cobra já seco, uma telha quebrada que faz deixar penetrar uma fresta de sol – Essa luz foi mandada por Deus para me auxiliar nesse trabalho de Satã! Filha única é essa luz! – pensa o rabugento padre. Uma ratoeira colocada, não tão simetricamente ao lado da privada – Os ratos se alimentam até de merda! Terra esquecida por Deus! – blasfemeia o padre Jerimum. Uma aranha pequena e azulada desce no teto em sua teia fina e perfeita e estaciona a alguns palmos do rosto do padre para caçoar de sua má condição de mal cagado.

Recém chegado à pequena cidade, tenta explicar ao povo o significado de seu nome, apelidado logo em seguida pelo singelo apelido: (padre Jerimum). – Aborígines! Primatas! Índios ateus! Não respeitam nem um missionário de Deus! Vão todos pro inferno! Malditos abutres comedores de lagartos!

Padre Pumpkin caga. Caga como um Rei. Caga como um touro. Caga e pensa no estupro de sua alma exposta a mais ardente e real miséria humana. – ótima maneira de terminar a velhice... viver para cagar e tentar passar a palavra de Deus na terra dos demônios – ironiza o sacerdote.


Humilhado pela diarréia causada pela carne de porco ou pela galinha cozida, o padre chora. Chora e caga reparando no jerimum da telha e do chão. A aranha humilha o padre cagalhão.